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187- 12) Musée du Louvre

Algo que planejei bastante nas roupas que levei e nas que comprei pela Europa, era que elas precisavam ser coloridas: para expressar meu estado de espírito; descontraídas: para exaltar a minha felicidade e confortáveis: para agüentar um dia inteiro de turismo desenfreado.
A sobriedade pastel que esteve presente há tanto tempo nas minhas roupas, eu havia decidido deixar bem guardada em casa.

Vestir-se de brasilidade na França funcionou muito bem.
O verde e o amarelo provocaram em todos os parisienses a docilidade e a simpatia para conosco.
Não importava o que perguntássemos, pra quem perguntássemos, onde perguntássemos, éramos muito bem tratados e recebidos.

Ir colorido à Europa foi muito mais do que vaidade, foi uma sábia escolha.
Não houve um único lugar onde encontramos as portas fechadas.
Não houve um único lugar onde fomos recebidos com descaso ou pouco sorriso.

E nem sou assim tão enaltecedor a ponto de me vangloriar ser brasileiro.
Não sou exemplo de fiel torcedor de futebol, empenhado conhecedor do nosso folclore, freqüentador bronzeado das praias mais tropicais… Não tenho nenhum amor desproporcional pela política do meu país ou longe de mim ser um daqueles defensores das nossas cada vez mais despidas florestas.
Nunca fui de tocar cornetas quando o Brasil fez um gol ou de balançar a bandeira quando ganhamos a Copa do Mundo, mas pela primeira vez, senti a necessidade que as cores com as quais me vesti fossem meu cartão de apresentação, a bandeira que carregaria por onde passasse.

Sou o brasileiro mais fajuto do mundo e acho que isso deve bastar.
Longe de qualquer jactância ou bazófia fashionista, fi-lo porque realmente qui-lo.
Ser um periquito nas ruas de Paris fez todo o diferencial.

Assim, brasileiríssmo, cheguei com a irmã e os amigos ao Arco do Triunfo do Carrossel que nos apresentaria o Louvre.

Logo a frente estava o Jardin du Carrousel e pudermos ter um vislumbre do monstro que é o Palais du Louvre, o colossal complexo de prédios que abriga o museu mais famoso do mundo.

O Palácio do Louvre é uma estrutura quase retangular, composto pela praça do Cour Carrée e duas alas que envolvem o Cour Napoléon a norte e ao sul.
O museu é dividido em três alas: a Ala Sully a leste, que contém a Cour Carrée e as partes mais antigas do Louvre, a Ala Richelieu ao norte e a Ala Denon, que faz fronteira com o Rio Sena para o sul.

Não dá para não se sentir intimidado.
O Louvre é um museu conhecido pela fama de que para se conhecer tudo que há nele, um dia só é pouco.

No coração do complexo, está a Pirâmide de Leoh Ming Pei, acima do centro dos visitantes.

Ela é deslumbrante e celebra muito bem a fase da ampliação do Museu do Louvre.
A Pirâmide e seu átrio subterrâneo foram inaugurados em 1988.

Ficamos pulando de alegria lá do lado de fora.
A Ju foi a única que conseguiu voar.

Nós estávamos tão contentes que esquecemos do que nos esperava.
Após comprarmos nossos bilhetes, afundamo-nos Pirâmide adentro para o subterrâneo do museu, não sem antes contemplar por dentro da grande obra de vidro do arquiteto norte-americano de origem chinesa.

Aquilo tirou meu fôlego.
Eu já podia imaginar as maravilhas da arte que me esperavam naquele museu, mas pra mim, a maior obra-de-arte era a Pirâmide em si.

É raro encontrar alguém que não aprecie a Pirâmide do Louvre nos dias de hoje, mas houve um tempo que ela foi duramente criticada. Os mais conservadores alegavam que ela arruinaria a harmoniosa perspectiva entre o Louvre e o Arco do Triunfo.
Na minha opinião, ela criou a harmonia arquitetônica perfeita entre o moderno e o antigo.

O Louvre passou dos 3 milhões de visitantes anuais de 1989 para os 8,5 milhões em 2008.
Depois da Vênus de Milo e da Mona Lisa, a Pirâmide do Louvre ocupa o terceiro lugar no ranking das obras mais apreciadas pelos visitantes do museu.

Queria muito fotografá-la a noite.
Até pensei que teríamos outra noite para fazer isso nessa Eurotrip, mas não contávamos com as milhares de possibilidades e programas que Paris oferece aos seus visitantes.
Não houve a menor possibilidade de voltar lá.

Eu deixei bem claro para todo mundo, que era meu desejo marcar um horário de encontro e que cada um seguisse solitariamente a sua peregrinação cultural, mas a Ju me acompanhou assim mesmo.

Quando o assunto é museu e obras de arte, cada visitante tem um tempo, uma velocidade de apreciação…
As pessoas tem interesses singulares, preferências distintas…
As obras atingem cada um de nós de maneiras diferentes.

Por sorte, o meu interesse cultural era muito parecido com o da minha irmã e conseguimos não nos perder tanto assim um do outro.

Começamos nossa peregrinação pelo labirinto cultural.

Nem bem começamos e já encontramos ela, a original Vênus de Milo.
A famosa estátua que representa a deusa grega Afrodite (amor sexual e beleza física), ficou tempo demais perdida em informações escolares dentro da minha cabeça.
Lembro-me muito bem da excursão com a escola ao Liceu, onde nos foram apresentadas às estátuas mais importantes do mundo.
A da mulher sem braços foi a mais inesquecível.

E pensar que pela estátua apresentar os braços e as mãos danificados e separados do corpo, quando encontrados em 1820 na Ilha de Milo no Mar Egeu, eram de muito pouco valor para que os atarefados marinheiros voltassem atrás para recuperá-los.
O único consolo é saber que as estátuas gregas dessa época, muitas vezes não recebiam acabamento por igual em todas as partes, o polimento mais fino era reservado apenas às partes mais visíveis.

De qualquer forma, réplica das lembranças escolares ou a original no Louvre, ela causava a mesma impressão que me causou décadas atrás: sua beleza era perfeita e a ausência de braços a deixava mais bela.

No final da monumental escadaria Darú, lá estava ela.
Pra mim, uma das estátuas mais misteriosas e poderosas do mundo: a Vitória de Samotrácia, ou Niké de Samotrácia, a representação da deusa grega Niké.

Desde 1883 ela repousa suas resistentes asas no final da escadaria.
Apesar dos seus significativos danos e de estar bem incompleta, é uma das maiores sobreviventes do Período Helenístico e mostra grande maestria em suas formas e movimento.

Não poderia haver melhor lugar para se colocar tal tesouro.
Por representar uma figura de proa, usada nos navios para afastar os males e cortar os perigos dos mares, ali estava a bela escultura no topo de uma escada, quase voando, molhada, cortando o vento além dos mares desconhecidos…

Lembrei-me de quando eu ia à proa do Costa Victoria no crossing pelo Oceano Atlântico e me perdia em pensamentos.
O bico do navio rasgava aquele mar azul num barulho mais poderoso que mil trovões e nem por isso eu sentia medo.
O vento fazia a pele querer sair do corpo e as lágrimas escapavam pelo canto dos olhos.

Por que essa estátua me fazia lembrar dessa experiência?

Eu quase não fui capaz de descobrir qual de suas asas era fruto de restauração, mas hoje percebo como a Nike foi feliz em adotá-la como inspiração para seu logo em forma de asa.
Eu quase não sentia falta da sua cabeça, mas podia imaginar na sua face, como estariam os cantos dos seus olhos e o movimento de seus cabelos.

Sentei-me em vários bancos.
Se houvesse um lugar pra se sentar, lá estava eu.
Acho que esse é o segredo de resistir aos quilômetros do Louvre.

Lógico que tem uma hora que vc não vai querer ver mais nenhum quadro na sua frente, mas tive Artes Visuais I, II, III… XV na faculdade…
Tudo o que eu via lá no museu, em alguma oportunidade já me fora apresentado em sala de aula nos encardidos slides da nossa doce professora, cujo nome não me vem à cabeça.
Eu e alguns amantes das artes, quando não dormíamos em aula, estávamos atentos a lição do dia do mesmo modo que sonhávamos viajar à Europa para poder ver todas essas obras originais.

Sentar-se além de descanso, era também um bom exercício de reparo. Reparo físico, espiritual. Um momento para reparar nos outros visitantes.
A sortuda população frequentadora do museu era muito curiosa: estudantes rabiscando suas pranchetas, fotógrafos girando suas imensas lentes, amantes de arte discutindo em idiomas que vc nem sequer sabe que existem, velhinhos apaixonados com seus andadores, asiáticos bonitinhos com suas famílias bonitinhas, inglesas magras com blusas gordas, americanos bem comportados, francesas bonitas, estranhos alemães…

Gente simples com guia auditivo, gente sofisticada com guia exclusivo…

Sentado no meio daquele museu, tive noção do tamanho da minha sorte.
Estar cercado por tesouros tão familiares não é para qualquer um.
Eu estava no meio do El Dorado, rodeado pelos tesouros mais fantásticos que o mundo já conhecera.

Seguimos a corrida ao tesouro a passos de tartaruga.
Reparamos uma aglomeração logo à frente e descobrimos o porquê.

La Gioconda.

A maior atração do Louvre também é uma das menores.
Vc não consegue nem estudar o sfumato de tão distante e protegida que a pintura está.

De alguma forma, mesmo sendo tão pequena, ela consegue despertar uma imensa curiosidade.

Seu sorriso enigmático não preenche a sala exclusiva de 200m² e seu valor pode ser bastante questionado.
A verdade é que as pessoas se acotovelam para tentar chegar o mais perto possível da bela dama.
Ela é provavelmente o retrato mais famoso na história da arte, o quadro mais valioso de todo o mundo.

Leonardo da Vinci que me perdoe, mas não vou gastar muito português para detalhá-la com precisão, muitos historiadores, cientistas e até mesmo os computadores da Universidade de Amsterdã já o fizeram e com profundidade.
Fico contente em dizer que ela não me impressionou em nada, já minha irmã…

Se o sorriso da Mona Lisa não conseguiu me impressionar, o olhar por outro lado…
Muito pouca gente olha para o quadro que a Mona olha o dia todo.

O quadro em questão é “As Bodas de Canaã” de Veronese e é o maior quadro existente no Louvre.
É nele que está retratada a transformação da água em vinho por Jesus Cristo.

De um lado a pequena Mona, do outro Jesus.
Os olhares que ambos projetam entre si parece ignorar a orda de turistas que se ondulam como um mar de cabeças.

O quadro de Jacques-Louis David, Consagração do Imperador Napoleão I e Coroação da Imperatriz Josefina na Catedral de Notre-Dame de Paris, é um exemplo claro de hierarquia.
A maneira como estão dispostos os personagens na pintura, encomendada por Napoleão, leva o observador a seguir uma sequência bem definida.
A Jussara pirou com essa obra. Conhecia essa história ao pé da letra.

Seguimos por corredores e salões.
Tetos decorados, afrescos e pinturas…

Foi quando alguém chegou muito perto da coroa e o alarme soou.
Grades surgiram nas saídas e ao redor do tesouro.
Um exército de funcionários aglomeraram-se às portas e tivemos que aguardar a confusão passar.

A Ju pensou estar gravando tudo, mas não havia apertado o botão de REC.
Perdemos!

Seguimos ao Egito antigo.
Depois da Pirâmide de Vidro foi o que mais gostei no Louvre.

Andamos como os egípcios.

Banhei-me nessa rica e antiqüíssima cultura.

A Ju incorporou Cleópatra.

Dá pra entender porque o Egito rompeu vínculos com o Louvre.
Por mais que tudo esteja perfeitamente protegido e bem exposto, é inquietante a sensação de roubo.

O subsolo do Louvre é um lugar sombrio, frio e úmido, onde dá para ver parte da muralha externa do castelo e o fundo do fosso.

Se a pequena Esfinge, isoladinha ali, já era tão magnífica e misteriosa, como seria ver a gigantesca Sesheps no planalto de Gizé?
Algo pra se descobrir num futuro próximo. Ser um pouco mais sortudo…

Entre uma ala e outra, algumas dimensões paralelas.

Influência, referência, repertório…

Assim caímos nos sarcófagos.

O que dizer deles?
Dá pra entender porque são literalmente conhecidos como comedores de carne.
Envolviam o corpo morto e conservado para que o espírito pudesse regressar e juntar-se a ele novamente, numa nova vida.

Havia muitos desenhos talhados na pedra.
Todos os sarcófagos eram ricamente desenhados.
Os desenhos representavam deuses que ajudariam o morto em sua viagem ao outro mundo, além de identificar a classe social da família do falecido.

Mórbida curiosidade.
Não consegui me mover dali sem antes me perder em viagens no tempo.

Estudava-os silenciosamente.

Como os homens podem ser tão fantásticos com seus ritos?

Somos todos do mesmo planeta e ainda assim somos tão diferentes…
Somos todos inspirados por uma força divina e ainda assim acreditamos em coisas tão diferentes…

Era quase inacreditável imaginar o corpo morto dentro desta pedra trabalhada.

Da mesma maneira que ao virar um corredor encontramos os sarcófagos, da mesma maneira a encontramos.
A vida inteira assisti vários filmes sobre ela. Jamais pensei que faria um:

Estar diante de uma múmia do Egito Antigo me fez pensar além da vida, me fez pensar no poder da ressureição.

Fez-me pensar no processo da mumificação osiriana: no cérebro sendo escorrido pelas narinas, do abdômen sendo aberto e todos os órgãos sendo retirados, embalsamados e colocados nos canopos.

Eu podia imaginar aquele pequeno corpo sendo preenchido com saquinhos de natrão em repouso para que seus líquidos escorressem.
Enterrado por 72 dias… O sal absorvendo todo o líquido do corpo.

Depois disso, com o corpo já escurecido e ressecado, o enxerto de resinas, aromas, perfumes, bandagem e pó de serra para dar conformação ao corpo.
A costura do abdômen e a placa mágica.
Enfaixamento com metros e metros de tiras de pano de linho com goma arábica e a cada volta, amuletos e colares.
Só então a múmia está pronta para o enterro.

Claro que o processo não se compara à injeção de essências e de vinhos corrosivos que as múmias mais pobres levavam através do ânus, isso sem falar do tampão! Hehehe…

Mas se fosse Faraó, cozinhava-se a carne até desprender dos ossos. Esses por sua vez, eram pintados de vermelho e enfaixados, fazendo-se uma estocagem na múmia com gesso.

Vida de múmia egípcia não era nada fácil.

Eu mal podia acreditar nos meus olhos! Havíamos conhecido uma múmia de verdade e eu nem me lembrava que já devia estar desidratado.
Eu esquecia de beber água, eu esquecia de comer, esquecia que estava com fome!

“-A gente chegou a comer alguma coisa no Louvre, Ju?” – juro que não lembro.

Fomos seguindo, sempre com passinhos de formiga, nunca sem vontade.

Encontramos painéis fabulosos pelo caminho.

A Ju incorporava o espírito guerreiro.
Eu desejava ter olhos na nuca e nas orelhas.

Atingimos a Ala Sully e pelas antigüidades do Irã encontrei o Chapiteau d l’Apadana.
Baaaaaaaaaaaaaah, pára tudo!
Como pôde existir um lugar no mundo que abrigou em algum momento nessa louca linha do tempo uma coluna assim?

Existiu.
Essa coluna fazia parte das ruínas do colossal templo da Apadana, na antiga cidade de Persépolis.
A construção da majestosa obra foi principiada por Dario, o Grande e concluída no século V a.C. por Xerxes.

Trinta das setenta colunas, juntamente com as duas gigantescas escadas sobreviveram às invasões do filho da puta Alexandre, o Grande e à deterioração do tempo.
Vinte e nove de trinta, porque uma estava lá no Louvre.

Em certos momentos, a Pirâmide de Vidro aparecia lá fora, bela, harmoniosa.
É como se ela olhasse pra mim e dissesse: “-Seu sortudo filho da mãe!”…
Hehehe…

Foi quando me dei conta das horas.

Elas haviam passado sem que percebêssemos.

O cansaço puxou meu corpo pra baixo.
Tomei fôlego, afastei-me da janela e mergulhei na parte do museu que se parece com um jardim de inverno.

A atmosfera é a mesma de se estar ao ar livre.

Encarei dois dos Quatro Cativos.

O eminente escultor holandês Martin Desjardins sabia como gerar impressões colossais.
Cada rótula do joelho desses gigantes era maior do que a minha humilde cabeça.

Como naqueles antigos filmes mitológicos da Sessão da Tarde, eu era capaz de imaginar os Cativos se movendo em Stop Motion.
Cada elemento representando uma das nações vencidas no Tratado de Nimega, expressando uma reação diferente à captura: revolta, esperança, resignação e mágoa.

Fui me arrastando através do Cour Puget até encontrar posada. Só fui perceber o registro em vídeo quando já estava completamente torto.
O cansaço era bem evidente.

Amém.
O resto do museu fica para uma próxima visita.

Não sei como chegamos lá, mas encontramos um corredor cheio de lojas inacreditáveis.
Havia todo o tipo de lojas de lembrancinhas do museu, tudo muito caro e de praxe.
Havia uma loja muito interessante de artigos natureba, gastei um tempão nela.
Havia uma Virgin Megastore… Nos perdemos de verdade lá dentro… A Ju gastou seus euros em canetas caríssimas que estavam baratíssimas, segundo ela. Eu tava quase levando um Wii ou um PSP, mas resisti bravamente, era olhão, nem tava precisando.
Ah, tá certo, a gente sempre tá precisando dessas coisas, deveria ter trazido. Hehehe…
E havia a Apple Store que ainda não tava pronta.

Juntamos toda a força que ainda nos restava e fomos dar uma de Dan Brown.

A segunda fase do plano do Grand Louvre, La Pyramide Inversée (A Pirâmide Invertida), foi concluída em 1993.

A Pirâmide de cabeça pra baixo fez com que eu perdesse o fôlego mais uma vez.
Esqueci-me de tudo. Não havia mais dores.
Fui até ela como criança vai ao brinquedo.

Equilibrei-me. Contorci-me.

Corri com os bolsos cheios de manuais, capa da máquina, documentos…
Posicionei minha mão entre a Pirâmide Invertida e a Pirâmide de Pedra estacionada no chão.

As primeiras fotos fizeram meus bolsos da calça parecerem enorme nádegas. Parecia que eu estava ao contrário!!!

Por sorte constatamos o problema com os bolsos, eu os esvaziei e tiramos outras fotos.
Na realidade, tiramos várias.

Colocar a mão no ponto onde as pontas das duas pirâmides quase se tocam é viciante.
Não dá pra fazer uma única vez.
A energia que aquele espaço gera é pura alegria.

Antes da gente, japoneses, ingleses, americanos e todos os demais aproximavam-se das Pirâmides, em pé, sólidos como rocha enquanto seus conhecidos os fotografavam.

A gente queria interagir com a energia das Pirâmides.
Nem sei se era praxe tirar a foto do jeito que tiramos, mas depois que colocamos a mão lá, os japoneses, os ingleses, os americanos e todos os demais embarcaram na nossa e refizeram suas sessões fotográficas.

O cálice e a lâmina, a união dos sexos. A ficção do autor de O Código Da Vinci podia muito bem confundir a realidade.
A Pirâmide de Pedra pequena, para qualquer pessoa que como eu tem alguma imaginação fértil, realmente lembra o vértice de uma pirâmide maior (possivelmente do mesmo tamanho que a Pirâmide Invertida acima), embutida no chão, como uma câmara secreta. A câmera onde descansaria o corpo de Maria Madalena. Hehehe…

Depois que cansamos de brincar de Robert Langdon e Sophie Neveu, fomos encontrar os amigos.

Ainda havia tanto para se ver…
Nesse momento vc se dá conta de que é impossível ver tudo o que o museu tem.

Fiquei com raiva do Louvre.
Comentei com o amigo suíço esse egoísmo francês de querer concentrar todos os tesouros num único lugar.
Só de pensar que ainda tem tanta coisa lá que não está exposta, simplesmente porque não há mais lugar pra isso…

Tá certo que um negócio desses é uma plantação de árvores com frutos de ouro para a economia do país, o El Dorado para os turistas, mas o Louvre é desproporcional, é um exagero de museu, dá raiva.
A idéia de pedir para Papai Noel distribuir um pouquinho de tesouros para museus menores ao redor do mundo pipocou na minha cabeça. Vou pedir isso neste Natal.

O amigo disse que o “egoísmo” francês poderia ser interpretado pelos franceses como “orgulho”.
Compreendi a colocação.

Eu respirei inspiração, eu voltei no tempo a cada sopro.
Sinto que se pudesse tocar essas peças com a ponta dos dedos, eu poderia de alguma forma ter alguma visão, algum resquício de história que ficou incrustrada em algum sulco da massa ou pedra. Tentei em muitos momentos enxergar a alma dessas obras, alguma atmosfera que brilhasse diferente, uma luz divina…
Encontrei e encontro todos esses fragmentos perdidos olhando agora para as fotos, escrevendo sobre elas, relembrando esta peregrinação.

Ir ao Louvre deveria ser direito de todo ser humano vivente nesse planeta.
Conhecer o Louvre é a peregrinação mais importante que podemos fazer nesse nosso tempo.
Eu espero repetir essa experiência mais vezes.